Tirei a carta por volta dos 19 anos. Foi um processo moroso mas valeu a pena. Foi óptimo ter a carta nas minhas mãos e começar a ter uma vida mais independente, longe de pedidos incessantes aos pais para boleia e o fim das demoradas viagens nos transportes públicos só para tomar café com uma amiga.
Depois disto vieram as responsabilidades de ser “adulta” e é aqui que os meus problemas começam. Tenho 1,47m, sou um ser do tamanho de uma formiga que conseguiu tirar a carta. Tudo começa com o momento pré-viagem: sentar-me no carro é um stress, especialmente se não for o meu, porque tenho de ajustar o banco para o máximo da altura e puxá-lo todo para a frente, mexer nos espelhos e desregular o carro todo. É chato e demora, pelo menos, 10 minutos.
Não importa em que circunstâncias acontecem, coisas tão simples como encher o depósito são a minha vergonha; é uma acção impossível, ora não chego aos botões de pagamento automático, ora não tenho força para abrir o depósito (sim, é verdade!) ou o balcão de atendimento é enorme e só me vêem se me puser nas pontas dos pés. Sim, é tão triste quanto parece, ao ponto de andar mais 5 km só para não passar (tantas) vergonhas.
A minha vida piora quando tenho de tirar tickets de parques de estacionamento ou passar em portagens. Não dá! Não importa quão perto fico da máquina, os meus braços minúsculos não chegam ao botão e o fim é sempre o mesmo: tirar o cinto, pendurar-me na janela, falhar miseravelmente e ouvir gargalhadas.
Pelo menos há gargalhadas, nem que seja eu, sozinha, a aperceber-me do absurdo das minhas acções em situações pensadas para os Hércules da sociedade.
Revisão: Mitchel Molinos